Diálogo (muito à portuguesa) entre jornalistas
- Vais lá?
- Lá onde?
- À posse.
- Mas porque perguntas?
- Só por perguntar.
- Vá lá, desembucha.
- Andas diferente. Sempre de gravata, nos últimos dias. Deixaste de vir trabalhar com os jeans coçados e aqueles ténis sebentos que nunca largavas. Até já fazes a barba!
- Eh pá, reparas em tudo.
- Pensei que tinhas recebido um convite.
- Convite de quem?
- Deles. Dos gajos.
- Do...
- Sim. Eh pá, eu sei que não votaste nele. Aliás, ninguém na Redacção votou. Mas apareceres aqui de gravata todos os dias faz-me pensar.
- Pois. É a posse.
- O quê?!
- Topaste mesmo a coisa. Vou assistir à posse.
- Eu bem sabia...
- E não é só isso.
- É o quê? Despeja o saco, pá.
- Tinhas razão há pouco. Quando falaste em ser assessor.
- Vais para lá?
- Não é bem. Ir, não sei se vou. Mas gostava. E estou a mexer-me para isso.
- Ah, eu sabia que havia coisa. Mas olha lá: tu és de esquerda, como eu, e nem votaste no tipo!
- Vou contar-te um segredo. Mas jura que fica entre nós.
- Juro, juro.
- À última hora mudei de ideias e votei mesmo nele.
- Ah, que coincidência. Engraçado que me digas isso. É que eu acabei por votar nele, tal como tu. Achas que é possível arranjar-se lá um lugarzinho também para mim?