Santana, Cleon e Sócrates
Quando iniciou a Guerra de Peloponeso, que criaria as condições para a irresistível derrocada de Atenas como potência política, cultural e militar, o seu líder Cleon, que detestava ser criticado, afirmou sibilinamente: “O povo despreza quem os trata bem”. Se olharmos para palco da política nacional encontraríamos facilmente quem pensa o mesmo. Julgam erradamente, como dizia Aristófanes, que o povo não é o senhor e que os líderes, como Cleon, não são os seus escravos. Por isso quando o sr. Santana Lopes diz que “uma grande parcela do território nacional está pior do que estava há 20 anos, está mais pobre, mais isolada, envelhecida e desprotegida. A culpa é igualmente nossa, dos partidos que estiveram no Governo durante estes 20 anos”, está a ser o mais clarividente dos políticos da actualidade. Algo que se julgaria impossível num político que nunca tinha admitido vulnerabilidades. Mas que achará o Cleon dos dias de hoje, o sr. José Sócrates, de tudo isso? Por certo responderá convictamente, com um sorriso desafiador, que o povo despreza quem os trata bem, apesar de lhes fechar os centros de saúde, as escolas e tudo o que não cheire a cultura “clean”.