Agradar a (quase) todos
A mini-remodelação governamental que José Sócrates resolveu empreender continua a parecer-me pífia. Depois de ter cedido à rua, como diz Vital Moreira, e, sobretudo, de ter tentado agradar a Aníbal Cavaco Silva e a Manuel Alegre, principais contestatários dos ex-ministros, agora a receita vai aplicar-se também à escolha dos secretários de Estado. Alguns há que terão trabalhado com João Cravinho, outro descontente com peso específico no PS, ou com A, B ou C. Quem governa assim e remodela desta forma dirigida, tentando agradar a gregos e troianos, mas deixando problemas prementes por resolver (Lino, Pinho, Silva, etc), é porque já perdeu o pé. O que aliás também se pode notar na reacção à notícia do dia, no Público. O Sócrates que vimos e ouvimos em Belém, de voz trémula e olhar perdido, não é o homem impenetrável, o homem da comunicação, a máquina que corta a direito, indiferente às contestações. É um ser frágil e abatido. Um governante vulgar, um político à beira da queda. Veremos se a queda se vai dando devagar devagarinho até às eleições ou se, pelo contrário, só irá tornar-se inevitável no pós-2009, sem maioria absoluta e depois do primeiro Orçamento aprovado fruto de um negócio qualquer. Passa o primeiro, mas não passa o segundo.
Emboras os tempos presentes se pareçam cada vez mais com o cenário político de 2001 - esta remodelação demonstrou à exaustão que Sócrates já não recruta no PS como Guterres não conseguia fazer nos últimos tempos -, o actual primeiro-ministro tem contra si o facto de ser avesso ao diálogo. Sócrates não é Guterres. É incapaz de ir negociar um acordo parlamentar com o PP de Portas ou o BE de Louçã em troca de qualquer coisa. A sua imagem de marca sempre foi outra. Se o PSD não for capaz de se unir com força, é bem capaz de ser o PS a rebentar com tudo outra vez e a pôr isto outra vez ao nível do pântano. A ver vamos.