quinta-feira, janeiro 17, 2008

Incompreensões

Também eu, Francisco, andei em todas elas. Em especial como passageiro do «Texas», entre Peso da Régua e Vila Real. Tal como tu, «tenho pena». Ao contrário de ti, não compreendo. Aliás, nunca compreendi a forma como as linhas da CP foram desmanteladas, para dar força aos mesmos que capitalizaram a privatização da Rodoviária Nacional (Cabanelas, Humberto Pedrosa) e que hoje, como sucede nos trajectos para Sul com a EVA Mundial Turismo e a Rede Expresso, funcionam em cartel concertando preços sem que ninguém os aborreça com minudências.
O fim do comboio coincidiu entre nós com o início das auto-estradas. E, para encaixar dinheiro com a venda da RN, era preciso que o Estado garantisse rotas de passageiros comercialmente atraentes aos senhores da camionagem.
Eu tenho pena e não compreendo, porque a Linha do Tua, do Corgo ou do Sabor percorrem paisagens tão admiravelmente belas e as carruagens são tão apaixonadamente anacrónicas, naqueles carris mais estreitos do que todos os outros, que a sua continuidade era obrigatória em qualquer país com um mínimo de estratégia de desenvolvimento turístico para o interior.
Sou um romântico e as linhas são de manutenção demasiado cara? Eventualmente. Mas não poderia ser, pelo menos parcialmente, assegurada por patrocínios e apoios privados, associados ao sector turístico na Região e aos seus produtos, com destaque para o vinho? Os comboios não tinham passageiros? Mas como podia ser de outra forma, se ninguém os promove lá fora, talvez por vergonha de parecermos menos «modernos», de contradizer as fotografias do senhor inglês que nos julga no Alaska.
A CP e a Refer são detentoras de um património que os diversos Governos têm insistido em delapidar. Para os nossos governantes, o comboio só existe para andar muito, muito depressa. Como aqueles com vidros opacos, à TGV, onde apenas conseguimos ver o nosso próprio reflexo. O reflexo de alguém que atravessa um País que vai perdendo a sua Geografia. E que, ao fazê-lo, perde também parte da sua História.
A ler também o Rui Vasco Neto e o Pedro Morgado, porque estão de acordo comigo e isso sabe sempre bem, principalmente a alguém tão carente quanto eu.