Muito barulho para nada
O ódio dos intelectuais à televisão é antigo e não se vai resolver nesta geração. Só assim se explica que Pedro Santana Lopes reúna, de repente, à sua volta um coro de loas por se ter recusado a continuar uma entrevista em directo.
Visto de fora, como fazem as agências de notícias estrangeiras, o episódio só vale por se tratar de um ex primeiro-ministro. Mas em que é que este incidente difere dos que acontecem diariamente com a imprensa escrita? Quantos entrevistados já se recusaram a continuar por não gostarem da pergunta, quantos jornalistas pararam os gravadores porque o entrevistado está a ser mal educado, ou não está a responder às perguntas? Quantas cartas de desmentidos, telefonemas de desagrado e ameaças de "nunca mais" se seguem à publicação de notícias e de entrevistas? Nunca em directo, claro, porque imprensa não pisa nessa corda bamba.
PSL enfrentou um jornal televisivo sem a atitude reverencial e sacralizada do costume. O resultado final é bom para a informação televisiva, porque permite que se discutam critérios editoriais (que, obviamente, são sempre discutíveis). Acontece a toda a hora, em todo o mundo, com todos os orgãos de comunicação social. Não justifica, a meu ver, a nomeação de PSL para o cargo "até que enfim há alguém que põe esses bandalhos no lugar".
Guardem as bazucas. É só televisão, feita por pessoas.