Por um fio
No meu bairro, de imigrantes, parece só haver um telefone público e fica mesmo na esquina de minha casa. As conversas neste telefone são estranhas, as línguas determinadas pelos fusos horários, com dramas e alegrias muitas vezes em contra-ciclo com o resto da cidade. Hoje de manhã, por exemplo, a rua estava cheia de sol e fervilhava de actividade. Pendurada no fio do telefone, uma mulher pequenina chorava. Agora, quando cheguei, a rua estava deserta. Só se via um homem com ar cansado, agarrado ao telefone a repetir "É papai. É papai. Quando puder, papai pega um avião e vai-te ver".