Um homem com qualidades
A propósito da edição em português do seu último livro, «Andanças com Heródoto» o ípsilon dá capa a Ryszard Kapuscinski. A leitura do artigo de Paulo Moura é obrigatória. Kapuscinski era repórter. Um desses que atravessou a História, sem nunca esquecer que ela era feita por homens e mulheres iguais a ele. Viveu o fim do regime do Xá em Teerão, passeou pelo destroços de Luanda em 1975 depois da batalha da qual quase todos os outros fugiram, descreveu o fim da URSS e da Etiópia de Selassie e muito mais: dezenas e dezenas de revoluções, guerras, cenários de mudança de um mundo em convulsivo movimento e assente sobre uma miríade de vulcões.
De nacionalidade polaca, dizem agora que assinou um acordo com a polícia política e negociou a sua liberdade em troca de informações sobre os países que visitava. Que seja. E que importa? Como se lê no artigo de Paulo Moura, parece que não fornecia «informações úteis». Para nós, em compensação, tudo o que escrevia era útil. Mais do que isso, indispensável e único. «O maior repórter do mundo»? «Mestre do jornalismo moderno»? Talvez possamos prescindir destas hiperbólicas classificações. O que não podemos é prescindir de o ler.