Falta de electricidade
O debate entre sete dos 12 candidatos à Câmara de Lisboa que ontem decorreu no Museu da Electricidade foi morno, muito morno. Diria que o debate não teve electricidade nenhuma. Começou com José Sá Fernandes (BE) a dizer que "a câmara é caloteira" e que "ninguém com vergonha governa a CML assim", o que, diga-se, serviu para estabelecer o tom do debate. Para além de morno, a contenda não se pautou pelo nível. A coisa continuou quando Telmo Correia (CDS) lembrou que o vereador bloquista (sem pelouro) tinha 11 assessores. Mais à frente, Sá Fernandes respondeu, à altura: "Quando o senhor fala em milhares de prédios devolutos na cidade, pode-me dizer três?" Telmo exclamou: "Não faça truques".
Para além do debate entre os extremos ideológicos, justamente aqueles que podem vir a não ser sequer eleitos, destaque para a prestação fraquíssima de Fernando Negrão. O candidato do PSD não conseguiu explicar como iria funcionar o tal fundo imobiliário com imóveis da CML (uma ideia que Santana teve quando enfrentou João Soares) e deitou tudo a perder quando, por duas vezes, se referiu assim à autarquia da capital: "Se pusermos o Ministério das Finanças a mandar na Câmara de Setúbal...". Ninguém lhe explica que a eleição é desta margem?
António Costa, tenho que confessar, surpreendeu-me. Não gostei de o ver de sorrisinho na boca sempre que os adversários falavam, com uma atitude cínica que pensava ser mais característica do secretário-geral do PS. Algures no caminho, e talvez por osmose, deve ter apanhado o tique. Não lhe fica bem.
Costa explicou bem o caos financeiro da CML, sem populismos, mas falhou quando afirmou querer "recorrer a um acordo de saneamento financeiro" para evitar que o Estado tenha de intervir. Uma deixa que Telmo e Negrão acabaram por saber explorar. Melhor o primeiro que o segundo. Ruben de Carvalho esteve igual a si mesmo, bem a defender a posição dos trabalhadores do lixo da CML (que são quase três mil), mal quando interrompeu várias vezes os adversários com "bocas" desnecessárias.
Quanto aos independentes, Helena Roseta esteve melhor que Carmona Rodrigues. A candidata lembrou que o PS nunca alertou para a crise financeira da CML em reunião da Assembleia Municipal e defendeu coisas simples, eficazes. Como os "gabinetes de proximidade" e a prioridade aos actos cirúrgicos, em detrimento dos grandes projectos. Segura, só não gostei daquela flor na lapela, verde e com as pétalas a esvoaçarem durante todo o debate.
Carmona esteve cinzento, apesar de simpático (o seu forte). Rebateu bem a questão dos assessores e esteve melhor quando apresentou o seu programa, com toda a engenharia ambiental - onde é especialista. O cenário não lhe foi benéfico, nem a escolha do fato escuro ajudava, todo parecia sombrio. Acabou por ser um autêntico saco de boxe.