Cruel dilema
No excelente programa de ontem do Prós e Contras, conduzido de forma muito competente por Fátima Campos Ferreira, penso ter ficado claro que a posição do PSD de pedir redução de impostos é politicamente errada. O problema dos social-democratas ficou evidente na discussão. Se o Governo decidir desde já baixar os impostos será sempre sua a decisão, com o correspondente ganho de popularidade; se o fizer no próximo ano, como tudo indica irá acontecer, disfarçará a medida eleitoralista com a seguinte desculpa: a própria oposição andava a pedir, de que se queixa agora?
Confesso que não entendo a insistência do PSD. A única explicação é que os dirigentes social-democratas sabem à partida que José Sócrates não baixará impostos, o que lhes dará oportunidade para acusar o Governo de teimosia. Mas parece haver aqui uma visão de curto prazo. Se existe folga orçamental, como afirma o PSD, então os socialistas podem baixar impostos logo antes das eleições, numa altura em que o défice atingirá apenas 3,3% do PIB, em vez dos actuais 3,9%. A folga será então muito maior.
Mas o problema do PSD é ainda mais grave. A sua argumentação básica sustenta que os portugueses estão a pagar demasiado ao fisco. Mas, por outro lado, mantém-se a necessidade de equilibrar as contas públicas. A posição de Campos e Cunha, a meu ver, foi fortíssima no debate da RTP e a da oposição parecia frágil: se baixam os impostos, a única maneira de reduzir o défice será diminuir a despesa; no entanto, os representantes social-democratas não se cansaram de criticar cortes de maternidades e escolas, que reduzem a despesa.
Resumindo: o PSD tem de ser mais claro. Ou defende a consolidação orçamental e ganha as eleições se o Governo falhar nessa tarefa; ou defende a baixa de impostos, não podendo criticar o Governo no caso de haver défice excessivo. Mais tarde ou mais cedo, estas contradições vão afundar o navio das críticas.