A paixão do senhor Scolari
Vejo cada vez menos televisão. E ainda menos os canais portugueses em sinal aberto. O desencanto foi-se instalando aos poucos e acabou por redundar em divórcio. Nos dias que correm, é raro ver até os telediários generalistas: prefiro as notícias dos canais por cabo, que têm uma qualidade francamente superior. Um dos motivos que estiveram na origem desta separação foi a inflação de publicidade, com blocos de anúncios que chegam a ultrapassar 20 minutos. Ninguém aguenta esta overdose, ainda mais patente nas semanas que antecedem o Natal (período que, aliás, cada vez começa mais cedo para efeitos comerciais; qualquer dia o Pai Natal vem visitar-nos à praia durante as férias de Verão).
Agora nem no escuro da sala do cinema escapo a esta praga. Estava há dias no Alvaláxia, pronto a ver o último filme do Bruce Willis, quando me aparece no ecrã uma cara familiar: o seleccionador de futebol, Luiz Felipe Scolari. Que pretendia ele? Lançar-me este mimo: “Quer ser um dos meus? Então tem de ser um apaixonado.” Era afinal um anúncio à Caixa Geral de Depósitos, benemérita instituição que tem dado guarida a foragidos da política, como o sr. Vara, que foi ministro de António Guterres, e a doutora Cardona, que foi ministra de Durão Barroso.
Senti vontade de sair da sala e pedir a restituição do dinheiro do bilhete. Para ver aquilo da próxima vez terão de me pagar a mim em vez de ser eu a pagar-lhes...