terça-feira, outubro 31, 2006

Miguel, o absolutista (II)

Repito: tem MST razão em sentir-se ferido com o ataque soez que lhe fizeram. Mas daí até envolver toda a blogosfera no manto de “irresponsabilidade e impunidade” a que alude no Expresso vai uma distância que ninguém com seriedade intelectual devia percorrer. MST ignora que têm partido do mundo dos blogues que ele despreza as mais vigorosas afirmações de defesa que lhe exprimiram vários bloggers perfeitamente identificados. Gente tão diversa como o Carlos Abreu Amorim, o Daniel Oliveira, o Miguel Silva, o Rui Bebiano e o Rui Ângelo Araújo. Sobre isto, nem um sussurro dele.
A Internet tem incontáveis defeitos? Pois tem. Como têm a escolaridade universal e obrigatória (que, horror, “baixou a qualidade média do nosso ensino”, como as cassandras de serviço não cessam de proclamar), as férias pagas (que enxamearam o mundo de turistas, que MST já disse desprezar) e, em última análise, a própria democracia. MST e alguns outros como ele por vezes fazem-me lembrar aqueles oposicionistas espanhóis que, enterrada a ditadura, resmungavam entre dentes: “Contra Franco vivíamos mejor.”
Será mesmo? Apesar dos tarados que proliferam na Internet, não tenho dúvidas: este é um preço compreensível a pagar pelo progresso num mundo onde as máquinas de escrever, a televisão a preto e branco e o partido único são apenas memórias de um tempo que já passou.