Da comunicação
O episódio da escolha do sucessor de José Souto Moura como Procurador-Geral da República tem demonstrado que, talvez por ser Agosto, o Governo de José Sócrates tem cometido os primeiros erros em matéria de política de comunicação institucional. O Governo parece estar a vacilar. O mesmo Governo que muitos consideravam sem mácula em matéria de comunicação governamental - não precisando sequer da central que Morais Sarmento e companhia (muito) limitada queriam montar na Gomes Teixeira no tempo de Durão Barroso. Veja-se: O primeiro-ministro dá uma entrevista a uma televisão onde demonstra que o mais provável é o Governo chamar a si a escolha, sem consultar a oposição. Depois, Vitalino Canas, porta-voz do PS, reforça aquela ideia e garante que "não há tradição, nem regra", que obrigue o executivo a partilhar a escolha com os outros partidos com assento parlamentar. Diz Vitalino que se houver alguma conversa, ela não passa de um exercício de "cortesia". A seguir, sabe-se que Belém prefere os consensos e lembram-se mesmo as palavras de Cavaco Silva durante a campanha e no discurso da tomada de posse. Logo no dia seguinte sabe-se que Sócrates telefona a Ribeiro e Castro e a Marques Mendes (por esta ordem curiosa) para falar do envio de tropas para o Líbano e acaba por introduzir o tema do processo de escolha do PGR.
A seguir vem o pior: Fontes do Governo, supõe-se que oficiais, dizem à Agência Lusa que Sócrates irá falar com todos os partidos e que há, afinal, uma hierarquização da escolha por categoria profissional, dando primazia aos magistrados do Ministério Público e colocando os advogados no fim da linha. Mais umas horas e é o próprio ministro Albero Costa que envia uma nota à agência noticiosa a desmentir "categoricamente" esta última notícia e a dizer que a mesma é destituída de qualquer fundamento. Por fim, o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, acusa "parte da oposição" (o odioso deve ser para o PSD e a deferência para o CDS) de andar a fazer "comícios" com o perfil do futuro PGR. Mais, acaba também por visar certas notícias com "fontes anónimas" e de informação "de corredor". Espantoso. Será que o Governo perdeu o pé na matéria? Ou terá razão Vasco Pulido Valente, quando dizia há dias que este Governo só fala por personagens que possam ser desmentidas quando o primeiro-ministro muito bem entender? Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos... Enquanto isto, a oposição dorme o sono dos justos e não age porque pensa sempre que alea iacta est. Os dados estão mesmo lançados?