Portugal dos pequenitos
«Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial», o livro de Irene Flunser Pimentel agora editado, é um trabalho excepcional pelo estilo fluente de escrita, baseado numa pesquisa profunda de múltiplas fontes.
Tratando obviamente de um tema muito sério, fartei-me de rir com o seu Capítulo III, o qual aborda a estada dos refugiados (e em particular as refugiadas) na nossa Lisboa.
Os homens escancarando os olhos às estrangeiras que fumavam e não se vestiam de preto, os rapazes simulando lutas no chão para espreitar as pernas à mostra nas esplanadas, o horror delas pelas nossas cuspidelas para o chão e os andrajosos mendigos, o sentimento de atrofio apesar da simpatia dos nativos, tudo isso, muito disso, não mudou desde então.
O livro não é de todo só isto, não se pense. Mas é importante este retrato nele feito daquilo que, como lhe chamou Saint-Exupéry era - para ele - este «paraíso triste».