O sistema de Hollywood
Num programa da BBC, na televisão, sobre a indústria do cinema, alguém afirmava que seis em cada dez filmes perdiam dinheiro e três ficavam ela por ela. Apenas um ganhava, e isso era como encontrar uma mina de ouro. Outro entrevistado dizia que se os produtores colocassem o dinheiro no banco, teriam melhor retorno do que a fazer filmes. Um terceiro depoimento reflectia negativamente sobre a pobreza das histórias fabricadas pelo complexo sistema de crivos de Hollywood.
O programa não iludia a crise do cinema como negócio, mas acredito que o problema vai mais fundo. O sistema de Hollywood secou a criatividade do cinema contemporâneo, matando cinematografias nacionais e numerosos talentos.
Os filmes vistos nas salas portuguesas ou na televisão são invariavelmente americanos e, mais do que isso, têm uma linguagem específica característica do sistema de Hollywood. Existe extrema preocupação por efeitos visuais, o drama ao serviço da espectacularidade cénica e técnica, a história dependente das características das estrelas de serviço. Uma película sem actor conhecido não tem viabilidade neste sistema e os autores dos argumentos possuem escasso domínio sobre o produto final. O inglês tornou-se a única língua narrativa.
Este triunfo universal de um produto tão pouco diversificado é um dos elementos mais visíveis da globalização. Mas se os intelectuais europeus (incluindo os portugueses) criticam tantos aspectos negativos desta (os McDonalds ou a Coca Cola, por exemplo), o fim da variedade no cinema merece geralmente aceitação, encolher de ombros ou contestação das quixotescas políticas europeias de tentar salvar alguma estética local. O cinema contemporâneo feito em Hollywood atravessa um período medíocre, mas esta é uma opinião minoritária.