terça-feira, abril 18, 2006

O futuro da Europa (II)


A radicalização política no Médio Oriente constitui um argumento a favor da adesão da Turquia à União Europeia. O Governo israelita deve estar amargamente arrependido de não ter negociado mais com a Fatah e com Mahmoud Abbas. Em resultado da frustração dos palestinianos, a chamada “resistência islâmica”, Hamas, ganhou as eleições. A radicalização do Irão é ainda mais perigosa. Após anos em que os reformadores não obtiveram nenhuma concessão do Ocidente, a elite religiosa decidiu desembaraçar-se deles, substituindo-os por uma nova geração de políticos forjados na revolução islâmica. Estes radicais, muitos deles fanatizados, viveram os horrores da guerra com o Iraque e culpam o Ocidente pela derrota então sofrida. Não admira que tentem construir bombas nucleares.
Estes dois exemplos ilustram as possíveis consequências de frustrar as expectativas dos turcos. Se não houver uma razão forte para a Turquia ser excluída, a única interpretação, do ponto de vista turco, é admitir que o Islão constitui a verdadeira causa da exclusão (o que nunca será admitido pelos europeus). Dito de outra forma, excluir a Turquia da adesão à União Europeia sem invocar os critérios de Copenhaga equivale a confirmar as previsões dos radicais islâmicos, para quem o Islão é incompatível com as ideias ocidentais. A Europa terá mais a perder do que a ganhar. A economia turca será bastante moderna na altura da adesão e o Governo de muçulmanos moderados está a fazer reformas corajosas. Uma mudança de atitude por parte da EU seria uma oportunidade política para os fanáticos.
Nos últimos 500 anos, a Turquia (o Império Otomano) participou activamente no jogo político das potências europeias. No século XVIII, os otomanos entraram num declínio irreversível e os europeus de hoje deviam meditar na história de Selim III, um sultão que tentou modernizar o país e acabou por pagar com a vida. O sultão reformista foi também poeta e ousou desafiar os dirigentes religiosos e militares. Acabou deposto por uma coligação de conservadores e o seu sucessor chacinou os reformistas que o tinham apoiado. Em 1808, o próprio Selim, prisioneiro em Istambul, foi estrangulado.

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