Mil erros tácticos (II)
Passados três anos, os EUA estão mais longe de alcançar todos estes objectivos. O Iraque está em guerra civil. As milícias matam e torturam com impunidade; a violência sectária está fora de controlo; as mulheres perderam os poucos direitos que tinham. Neste momento, o cenário mais provável para o Iraque é o de fragmentação. Quanto à energia, os preços elevados ainda não provocaram uma recessão no Ocidente, mas já ninguém tem ilusões sobre o futuro que nos espera: o barril de petróleo será caro durante anos.
Os sonhos de democracias liberais a florescerem no deserto também não passavam de miragens. Xiitas e sunitas estão cada vez mais separados, o que implica problemas a prazo para a Arábia Saudita; o Irão radicalizou-se e o pior pode estar para vir; no Paquistão, a ditadura militar é tudo o que impede a ascensão dos partidos islâmicos; os palestinianos votaram Hamas e os israelitas escolheram a política de separação entre os dois povos. Síria e Turquia não escondem o nervosismo.
Para piorar, o Iraque transformou-se num formigueiro de terroristas, um gigantesco campo de treino. O Irão avança para a arma nuclear. E agora sabe-se que a administração Bush sabia que Saddam não tinha hipótese de construir a bomba atómica. Ou seja, não houve mil erros tácticos no Iraque, mas sim um gigantesco erro estratégico.