A fraqueza da França
Não compreendo a satisfação que se percebe em alguns textos escritos por analistas de direita sobre as constantes crises da França. Talvez a espinha iraquiana esteja tão atravessada em certas gargantas que se perde a visão do essencial. A contestação ao Governo por causa do contrato de primeiro emprego vem dos sectores mais conservadores da esquerda francesa. Se essa contestação se intensificar, a direita reformista será afastada do poder, com duas hipóteses principais: a vitória da esquerda anti-globalização e defensora de um modelo para a Europa que não funciona; em alternativa, (cenário pesadelo e felizmente pouco provável) o acesso da extrema-direita ou da direita populista ao poder. Em qualquer dos casos, os países mais importantes da União Europeia vão atrasar a introdução de reformas económicas que os liberais consideram urgentes. Haverá ainda mais a distinção entre o arco de países com economia modernizada e o núcleo preocupado em preservar um determinado modelo social e que parece não conseguir sair do ciclo de declínio. Acho que a maioria dos analistas esquece que uma França enfraquecida implica uma Europa fraca. Claro que parte da direita portuguesa é contra a ideia de Europa, mas essa é outra conversa.