Amordaçar a liberdade
Boa Noite e Boa Sorte é uma fascinante digressão aos meandros do jornalismo americano no início da década de 50, quando a “caça às bruxas” desencadeada pelo senador Joe McCarthy estava no auge. A pretexto do combate ao comunismo, as liberdades democráticas chegaram a correr perigo neste período negro da história norte-americana. Para inverter a maré foi decisiva a actuação do credenciado jornalista Ed Murrow, da CBS, que teve a frontalidade de criticar o senador em directo no seu programa.
George Clooney filma deliberadamente a preto e branco, desenterrando uma estética que parecia morta e enterrada para acentuar o carácter dual dos desafios que então se punham: ou se estava abertamente a favor da liberdade de informação ou se estava liminarmente contra. Aquele período não era propício a neutralismos. No fundo, o que sucedeu há meio século serve para traçar um paralelo com a realidade actual: também hoje a liberdade de expressão está ameaçada a pretexto do combate tenaz ao terrorismo. Estas ameaças ocorrem quando e onde menos se espera. Compete a qualquer de nós, jornalistas ou não, enfrentá-las sem rodeios. McCarthy desapareceu, mas tem muitos discípulos de todos os matizes em vários continentes. Sempre prontos a inventar novos pretextos para concretizar um velho objectivo: amordaçar a liberdade.