quinta-feira, agosto 31, 2006

A derrota (ainda) mal digerida

Na entrevista hoje publicada no Diário de Notícias, e a que o João Villalobos já fez referência, Mário Soares revela a António José Teixeira que desde a derrota eleitoral de Janeiro decidiu "fazer uma pausa, de meses largos, para pensar". Interrogado, no entanto, se Manuel Alegre - que o ultrapassou em seis pontos percentuais, conseguindo o segundo lugar nas presidenciais - era afinal o melhor candidato da esquerda, Soares chutou para canto: "Sobre isso há análises diversas. Mas não serei eu a fazê-las." Mais de meio ano depois, teima em não reconhecer uma evidência ditada pelo resultado das urnas. De quantos mais "meses largos" de reflexão precisará para admitir o erro estratégico que cometeu?

De facto, uma notícia triste

A Inês já aqui escreveu sobre o encerramento do semanário O Independente, nos termos exactos em que eu próprio escreveria, e o Francisco também se pronunciou sobre o assunto, hoje muito glosado na blogosfera. Junto-me ao coro só para dizer que me custou entender como é que alguns profissionais da informação acolheram esta notícia com algumas expressões de alívio ou mesmo de mal disfarçado júbilo. O encerramento de um jornal é sempre um facto triste - ainda para mais tratando-se de um título que, queira-se ou não, marcou toda uma geração de jornalistas portugueses.

Impressões musicais (5)

Foi em meados dos anos 50 com o advento da indústria discográfica, e com o apoio da telefonia, que se democratizou o consumo da música. Desde então que falamos da música Pop (de popular). Neste “fenómeno” eu incluo toda uma variada gama de “rótulos”, que vão da simples "Cançoneta" à Música de Intervenção passando pelo Rock ao Folk (lore) até ao Fado, ao Jazz, etc.
Serve esta introdução para dizer que não possuo qualquer complexo ou sentimento de culpa por gostar de pequenas grandes criações do género. Inegavelmente reconheço grandes compositores especialistas no género - os pequenos temas musicais de 3 ou 4 minutos, com simplicíssimas e geniais melodias. Se nos despirmos de “snobeiras” ou preconceitos, admitiremos que gente tão diferente como Lennon e Mc Cartney, Jacques Brel ou Elton John, José Cid ou Sérgio Godinho, Caetano Veloso ou Chico Buarque, Paul Simon ou Paul Anka, deixarão para a posteridade intemporais pérolas musicais e às vezes poéticas; Canções como Eleonor Rigby, Quand on n’a que l’ amour, Your Song, 20 Anos, Balada de Rita, Leãozinho, Olhos nos olhos, Song for the Asking, ou My Way, ainda me comovem e não só marcam uma época como acredito que serão recuperadas no futuro, por intérpretes vindouros.
E, caro João Villalobos, quanta sofisticada música, aborrecida e empoeirada, jaz na minha discoteca, obras que a seu tempo se pretenderam revelações de “arte maior”, liberta e moderníssima? Alguém n’algum dia pegará nessa tralha?

PS: Os exemplos de canções e autores foram uma escolha (convicta) do momento.

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Da comunicação

O episódio da escolha do sucessor de José Souto Moura como Procurador-Geral da República tem demonstrado que, talvez por ser Agosto, o Governo de José Sócrates tem cometido os primeiros erros em matéria de política de comunicação institucional. O Governo parece estar a vacilar. O mesmo Governo que muitos consideravam sem mácula em matéria de comunicação governamental - não precisando sequer da central que Morais Sarmento e companhia (muito) limitada queriam montar na Gomes Teixeira no tempo de Durão Barroso. Veja-se: O primeiro-ministro dá uma entrevista a uma televisão onde demonstra que o mais provável é o Governo chamar a si a escolha, sem consultar a oposição. Depois, Vitalino Canas, porta-voz do PS, reforça aquela ideia e garante que "não há tradição, nem regra", que obrigue o executivo a partilhar a escolha com os outros partidos com assento parlamentar. Diz Vitalino que se houver alguma conversa, ela não passa de um exercício de "cortesia". A seguir, sabe-se que Belém prefere os consensos e lembram-se mesmo as palavras de Cavaco Silva durante a campanha e no discurso da tomada de posse. Logo no dia seguinte sabe-se que Sócrates telefona a Ribeiro e Castro e a Marques Mendes (por esta ordem curiosa) para falar do envio de tropas para o Líbano e acaba por introduzir o tema do processo de escolha do PGR.
A seguir vem o pior: Fontes do Governo, supõe-se que oficiais, dizem à Agência Lusa que Sócrates irá falar com todos os partidos e que há, afinal, uma hierarquização da escolha por categoria profissional, dando primazia aos magistrados do Ministério Público e colocando os advogados no fim da linha. Mais umas horas e é o próprio ministro Albero Costa que envia uma nota à agência noticiosa a desmentir "categoricamente" esta última notícia e a dizer que a mesma é destituída de qualquer fundamento. Por fim, o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, acusa "parte da oposição" (o odioso deve ser para o PSD e a deferência para o CDS) de andar a fazer "comícios" com o perfil do futuro PGR. Mais, acaba também por visar certas notícias com "fontes anónimas" e de informação "de corredor". Espantoso. Será que o Governo perdeu o pé na matéria? Ou terá razão Vasco Pulido Valente, quando dizia há dias que este Governo só fala por personagens que possam ser desmentidas quando o primeiro-ministro muito bem entender? Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos... Enquanto isto, a oposição dorme o sono dos justos e não age porque pensa sempre que alea iacta est. Os dados estão mesmo lançados?

Ainda o fecho do Indy

Manuel Falcão, que foi o primeiro subdirector do jornal (MEC era o director e Portas o adjunto), e o Vítor Cunha (que foi quase tudo naquele jornal, de redactor de política a editor, de editor executivo a director adjunto, até chegar a accionista e vender a sua posição) também já escreveram sobre o assunto. Aqui e ali.
A Marta R., por seu turno, revelou a relação que mantinha com o jornal. Ici.

Os comunistas são nossos "amiguinhos"...

Ainda acham que estou a exagerar?
Então leiam o lancinante testemunho
de mais uma vítima de Stress Pós-Traumático de Vasco Granja:

O Sr. Vasco Granja, que apresentava o seu programa sempre com um certo ar esgazeado, mostrou-nos milhares e milhares de filmes de animação todos iguais de autores polacos, checos, russos, búlgaros, com nomes ininteligíveis invariavelmente acabados em vsky, vitch ou lev. Estes filmes de animação ficaram popularmente conhecidos por “Konec’s”, pois era a única palavra que conseguiamos ler em todo o filme, para além de ser a mais aguardada pela audiência pois “Konec” quer dizer “Fim” em polaco.

Ao fim de alguns anos e, provavelmente após milhões de cartas de pais, preocupados com os danos físicos e morais que o Sr. Vasco Granja estava a provocar nas crianças de Portugal, este, a contragosto, reabilitou algumas das figuras da Warner, UPA, Hanna-Barbera, etc. As crianças portuguesas exultaram de alegria, mas como diz o ditado, não há bela sem senão, esta alegria durou muito pouco, pois Vasco Granja tinha as piores das torturas preparadas na sua manga, torturas essas que ainda hoje me provocam calafrios.

A primeira consistia na pronúncia dos nomes das personagens: descobrimos que Daffy Duck, popularmente conhecido até então pelo nome de “pato maluco”, se chamava “Páto Dáfi”, Bugs Bunny era o “Bugues Buní”, o cão Droopy era o “Drúpi”, Elmer Fudd era o "Élmer Fude", o Porky Pig era o "Pórqui Pigue", desta razia apenas escapou, por facilidade de tradução e fonética o Gato Silvestre.

A segunda..... era a pior de todas. Vasco Granja contava toda a história do filme antes dele começar. Ainda hoje, me assolam aquelas palavras.... neste filme o Elmer Fude anda a caçar coelhinhos, só que encontra o Bugues Buní, o qual se chega perto dele e diz “ o que se passa doutor?”

O PCP não é nosso "amiguinho"

O chega para lá a Carlos de Sousa, ainda se desculpa. Agora, aquilo que o PCP se está a preparar para fazer na Festa do Avante!, que arranca amanhã, é que já não tem remissão! Então não é que os comunistas programaram uma Homenagem ao cinema de animação na escolha de... Vasco Granja? Não bastou a minha geração? Querem traumatizar a da minha filha? E se a RTP decide recuperar o autor da aterradora frase "bom dia, amiguinhos!"?
Acham que estou a exagerar?
Cito Miguel Lopes:

E convidava miudinhos de tenra idade, aí nos seus 5 ou 6 anos, e entrevistava-os! Uma entrevista típica desenvolvia-se mais ou menos assim:
Vasco Granja - "então pequenino, como te chamas?"
Míudo - dizia o nome
VG - "e que idade tens?"
M - dizia a idade
VG - "Então e gostaste dos desenhos animados que mostrámos agora do polaco Miroslav Kusturica?"
M - acena com a cabeça dizendo que sim de forma pouco convincente
VG - "então e gostas dos desenhos animados do búlgaro Pavlov Meszaros?"
M - fica silencioso, com uma expressão entre o embaraçado e o atordoado
VG - "então e do romeno Miklosj Dragulescu?"
M - continua silencioso, ainda com uma expressão de profundo embaraço, e começa a ficar vermelho...
VG - "e então pequenino, diz lá de que de desenhos animados gostas mais?"
M - começava a desbobinar - "do Pernalonga, do Dáfidâque, do bipebipe..."
VG - "ah pois, esses hoje não temos para mostrar, por isso vamos antes ver uns lindos desenhos animados do soviético "Dmitryi Kurchatov..."

Natal é todos os dias

Vá lá, até concedo que a ideia dos dvd's à borla que alguém no marketing do Expresso teve foi bem bolada, e se lhes vai custar 1,6 milhões de euros (contas feitas pelo CM) é lá com eles.
Mas, imbatível no campo da prendazinha que nos alicia, é o 24 Horas. Hoje, por exemplo, tive direito ao molde de plástico de pintura da ursa Teresa*. O efeito disto nas vendas, e dados os milhares de fãs do Noddy por este país fora, só pode ser avassalador. Aguardo com expectativa a confirmação, depois de ver os números da APCT.
* Oferta limitada ao stock existente.

A união faz o blogue

Já que estou em dia de incentivos, aqui fica esta prenda para os meus camaradas mais preguiçosos em dar ao dedo. Onde estão três, imaginem a equipa toda.

É sempre triste...

Hoje, ainda em casa, recebi uma notícia que me deixou um pouco triste. E até nostálgica. Soube que o semanário O Independente vai fechar. O jornal que desde há longos anos me faz companhia (confesso que nos últimos tempos fazia cada vez menos) durante o fim de semana, a par do Expresso, das revistas Sábado e Visão, dos jornais Público e Diário de Notícias... Enfim, coisas de jornalista. Mas voltando ao que interessa. Não é só o facto de o semanário fechar portas que me entristece. Afinal, era uma referência no jornalismo português - também é verdade que cada vez menos o era. É sobretudo o facto de 25 funcionários, entre eles, colegas meus, jornalistas, ficarem assim, de repente, no desemprego. É assustador. Para eles deixo aqui uma mensagem de coragem e de apoio, dentro do que é possível. Não há tempestade que não seja seguida da bonança.

A frase da semana...

...mesmo não tendo ainda acabado, só pode ser esta:
«Gostava de ser ministro da Cultura».
José Cid, à TV7Dias.

Embora estivesse hesitante e quase a escolher esta:
«Dizem-me que o que eu defendo só se pode fazer em ditadura, mas então, para que serve a democracia?».
Medina Carreira, a O Diabo.

Generation Gap

Leio na Sábado e todo eu fico arrepiado até aos pelos do peito. A Joana tem 22 anos e foi «escarificada». Que raio é isso? É «uma técnica de marcar a pele deixando cicatrizes irreversíveis».
E o que decidiu gravar irreversivelmente na sua pele? «30 centímetros de cortes abaixo do umbigo, em carne viva, com a forma de duas caveiras e uma palavra - Psycho».
O que anda a estudar a jovem Joana que se descreve como «boa aluna e boa filha»? Psicologia. Em alturas assim, sinto-me muito, muito velho.

Toque feminino, precisa-se

Camaradas Corta-Fiteiras, minhas ausentes senhoras: Ofereço esta delicada flor-borboleta de folhas diáfanas e frágeis à primeira que voltar a escrever um post. Estou farto de mim, especialmente de manhã.
Bem sei que é singela e não tem um ar lá muito fresco, mas é dada de boa vontade.

Estou pasmado

O meu grande amigo Paulo Cunha Porto, autor de O Misantropo Enjaulado (esse blogue onde todos os dias são sexta-feira), leu O Avante.
Para quem o conhece bem, isto não pode deixar de ser um sinal preocupante dos efeitos irreversíveis da blogosfera.

Importa-se de explicar?

No dia em que projectos jornalisticos politicamente dirigidos forem dirigidos por jornalistas de corpo inteiro, com os dois pés na profissão e sem necessidade de fazerem do jornal uma arma de combate partidário e de promoção política pessoal - aí sim, talvez um jornal de cor política assumida sobreviva.
Caro João Pedro Henriques, li mas não percebi. Um jornal politicamente dirigido com jornalistas que o dirigem mas não fazem combate partidário? Cá para mim, ou seriam ingénuos ou esquizofrénicos. Mas se puder explicar melhor essa ideia, agradeço.

Uma seca, é o que é

Mais uma notícia cuidada e informada de Pedro Almeida Vieira. Os espanhóis fecham-nos a torneira e deixam sair umas pinguinhas, afectando gravemente Alqueva, albufeira essa que nunca encheu desde a sua inauguração.
A nossa dependência do controle dos rios por parte de Espanha promete continuar a ser, no futuro, ainda mais notória tendo em conta as modificações do clima.
Isto é grave, muito grave. Mas nem por isso debatido o suficiente num país que não tem recursos hídricos que se vejam e depende dos outros e da chuva.
Qualquer dia, como aos índios, só nos resta desatar aos pulinhos e a ulular aos Espíritos. Em espanhol, de preferência.

Eyes wide shut

O melhor e o pior desta entrevista:
Muito bem,a propósito dos voos da CIA: «Pretender-se não ir ao Parlamento Europeu quando responsáveis de outros países se dispõem a ir, não vejo razões para isso».
Mesmo mal, a propósito da insatisfação dos portugueses: «O parque automóvel continua a renovar-se, bastantes pessoas continuam a passar as suas férias (...) há muitos que continuam a comprar casa no Brasil».
Sem ter pedido autorização ao Leonardo Negrão, aqui fica a sua excelente fotografia de um ex-presidente caminhando, de olhos fechados para a realidade social que o cerca.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Postais blogosféricos

1. Um grande abraço de parabéns ao Francisco José Viegas pelo primeiro aniversário do seu blogue. A Origem das Espécies é de leitura obrigatória.
2. Adeus Cereja, olá Peixe na Água. Uma das nossas colegas favoritas da blogosfera tem um novo blogue. Vamos continuar a lê-la com a atenção de sempre.

O neto do prior

O André Moura e Cunha, no seu blogue Porque, anda a seleccionar as melhores primeiras frases da literatura portuguesa de ficção, como já assinalei aqui. Dei-lhe logo o meu contributo, mencionando este arranque - de inspiração existencialista - do excelente romance Alegria Breve, de Vergílio Ferreira: «Enterrei hoje a minha mulher – porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.»
Não sei se ainda vou a tempo, mas deixo agora a frase de abertura d'A Relíquia, um dos romances que melhor ilustra o génio de Eça de Queirós: "Meu avô foi o padre Rufino da Conceição, licenciado em Teologia, autor de uma devota 'Vida de Santa Filomena' e prior da Amendoeirinha."
Quem é que resiste a um início destes?

PPM sobre o fecho do Indy

Acabei de ler o registo sentido do PPM sobre o fecho do Indy. E lembrei-me das notícias, entrevistas e reportagens dele no Internacional. Não era um assíduo da secção - lia mais a Política, com a qual concorri directamente anos a fio, e a opinião -, mas reconheci sempre ali qualidade. No que o PPM, o Vasco Rato e outros foram escrevendo. Sobre o encerramento do Indy, esperemos por sexta-feira para fazer comentários mais direccionados.

Portas, o Prado Coelho da direita

"O regresso de Paulo Portas só fará sentido se o objectivo for a dissolução deste CDS num movimento político mais alargado, mais moderno e com ambição de poder. E que possa ser uma alternativa à Esquerda social-democrata que está neste momento no Governo e à Esquerda moderada que controla ideologicamente o PSD. Se, pelo contrário, Portas quiser regressar para se perder de novo na gestão do pequeno baronato e das altas sensibilidades que poluem o CDS, neste caso seria melhor continuar a ocupar os serões de terça-feira a comentar cinema e livros – sempre se disse que a Direita precisa do seu EPC".
Vítor Cunha, in Atlântico

Ora aí está o VC, que conhece bem a peça, a pôr o dedo na ferida...

Vejo-me obrigado a confessar:

Não só me estou nas tintas para o Projecto MIT como, pior ainda, não faço a mínima ideia o que seja.

Ainda O Independente

Tendo em conta isto, e continuando a acreditar que a minha fonte estava suficientemente bem informada para me levar a escrever sobre o negócio de O Independente, estou muito curioso sobre os desenvolvimentos desta história.
No entanto, como bem sabe qualquer pessoa que tenha feito qualquer negócio na vida, no final o que interessa é por quanto se compra (quando se compra a totalidade) e quem é que manda (quando se compra apenas a maioria do capital).
Adicionalmente, também interessa quanto se herda de dívidas (e neste caso concreto, em moeda antiga, dizem-me que cerca de 700 mil contos). A ver vamos. E cá estarei para fazer a festa, se o jornal continuar e seja quem for que o compre. Como escrevia o outro, há razão e coração. E neste caso, em mim, conta mais o segundo.

Obrigado e um queijo

Recebi hoje as mesmas não sei quantas páginas habituais, que almas supostamente bem intencionadas me enviam com regularidade semestral para a caixa do correio.
Não lhes interessa um chavelho que eu não tenha carta de condução. Para os emissários, o importante é que não seja apanhado em transgressão, por essa «máfia perigosa» que é a polícia das estradas.
Desta vez, o aviso descreve com detalhe onde estão os radares, quais os modelos de carros utilizados pelas autoridades e até, imagine-se, as matrículas. Face a este gesto de solidariedade nacional, só comparável ao cordão humano para a independência de Timor Leste, não há muito a fazer.
São os mesmos que piscam os faróis em jeito de aviso cúmplice para avisar a proximidade da «bófia». São os bem intencionados cidadãos portugueses. Para eles, o meu profundo descontentamento por existirem.

Desafinidades electivas

Caríssimo João. Enquanto ouvias os Genesis com Peter Gabriel, para cujas músicas nunca tive pachorra e cujas letras nunca entendi, o que eu ouvia era isto. Eu, pecador, me confesso: Hoje classifico isto perto do inaudível. Seja como for, aqui fica a partilha.

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Sem Almodóvar

Volver, o último filme de Pedro Almodóvar, estreou-se em Março em Espanha. Quase seis meses depois, continuamos sem vê-lo por cá. Tratando-se o cineasta espanhol de um valor seguro de bilheteira, além da sua inegável valia artística, percebe-se mal a estratégia dos nossos exibidores cinematográficos, que continuam a apostar quase em exclusivo no lixo americano. Estiveram todos estes meses à espera de quê?

Assim dá gosto

Cada vez mais inspirado e acutilante, o João, como se lê aqui.

Dois buracos

A data para conclusão das obras do túnel do Rossio foi adiada para as calendas gregas. A semana passada, ao passar frente ao Cais das Ex-Colunas, reparei que o prazo anunciado para o final dos trabalhos, exposto nos cartazes, foi em Março passado.
Como é? Não é obrigatório actualizar a informação? Dados os sinais de vida no estaleiro da obra, equivalentes aos do ainda planeta Marte, estou muito curioso de ver qual será.

Duas imagens valem mais do que...

Já estou a ver o José Falcão a deitar os bofes pela boca depois de abrir o JN e o SOS Racismo a manifestar-se logo à tarde. O jornal, na sua capa da Edição Sul, ostenta uma fotografia onde um polícia numa mota, com óculos escuros, interroga sobre qualquer coisa um cidadão preto que espreita pela janela (Eu vivi em África e por isso escrevo a palavra «preto» sem complexos).
«Agentes passam a usar motas para vigiar ruas e becos de Alfama», subintitula o jornal.
Como se não bastasse, lá dentro, na abertura do Caderno, vem outra foto. Mas nesta o mesmo agente da autoridade ri-se desbragadamente ao lado de duas senhoras brancas e gordas (também me recuso a escrever «obesas»), perfeito exemplo da população que a PSP pretende proteger de pessoas, imagino eu, parecidas com o senhor da capa.
Se calhar estou a embarcar numa teoria da conspiração, mas que acho isto pleno de subentendidos, lá isso acho.

Três letrinhas apenas

Uma amiga que colaborará com o novo semanário Sol saiu de uma reunião desanimada. Em resposta a propostas de reportagem, dizem-lhe que o máximo de texto que o jornal admitirá são 4.000 caracteres por cada peça.
4.000 caracteres para escrever uma reportagem?! Afinal, os 30% de redução de texto do Expresso não são nada ao lado disto.
P.S. Quem viu algumas das suas páginas impressas disse-me que o Sol «se parece com um 24 Horas a querer ser Correio da Manhã». Confesso que estremeci.

terça-feira, agosto 29, 2006

O herdeiro do chefe Silva

Ao acaso do zapping televisivo, tropeço num canal que nunca vejo chamado SIC Mulher. Desta vez demoro-me uns momentos a olhar para aquilo. Porquê? Está lá a figura mais inesperada: Nuno Morais Sarmento, com um fogão à frente, tenta cozinhar alguma coisa. Segundo deduzo, aquilo destina-se a mostrar os putativos dotes culinários do antigo ministro de Santana Lopes. Grande plano do interior da panela: o cozinhado tem péssimo aspecto, mas a senhora que acolita Sarmento mostra-se entusiasmada, desfazendo-se em elogios ao social-democrata, como se estivesse perante o legítimo herdeiro do chefe Silva. Para quem tivesse dúvidas, esta incursão na cozinha da SIC Mulher só confirma que Morais Sarmento "anda por aí", cheio de ambições políticas. Também não é por acaso que surge igualmente numa foto a três colunas da última edição do Expresso, sob o sugestivo título "Marques Mendes conta com Borges e Sarmento".
Como dizia o outro, isto anda tudo ligado...

Faz sentido, não faz?

Quando googlamos a palavra Portugal, o primeiro site que aparece na lista é o da Federação Portuguesa de Futebol.

Impressões musicais (4)


Dancing with the Moonlit Knight, trecho do album dos Genesis Selling England by the Pound (1973) ao vivo.
Quando os meus ouvidos não necessitavam de alta-fidelidade, a banda de Peter Gabriel ajudava-me a crescer e a gostar da vida.

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E que tal azul às bolinhas encarnadas?

Os enfermeiros da unidade de saúde de Matosinhos entraram em greve. Ao que parece, não gostam de amarelo. Como diriam os Gato Fedorento, usar batas dessa cor faz-lhes baixar a taxa de prestígio. Ou isso, ou não lhes favorece a cútis.
Os enfermeiros também não gostaram que as batas amarelas lhes fossem «impostas» pela administração. Prefeririam, imagino, um plenário para apresentação e votação das várias colecções Outono/Inverno 2006. Entretanto, os utentes (como se diz agora) que se amanhem.
A piada é que os 13% que furaram a greve podem, com dupla apropriação, ser apelidados de «amarelos». Os outros, lamento muito, mas é que nem «vermelhos» têm a desculpa de ser...Só levianos.

Tolerância Zero vírgula tal

Leio no insuspeito 24 Horas que a Direcção-Geral de Viação «enviou um documento para a PSP, para que os agentes apliquem uma margem de tolerância aos condutores em excesso de velocidade», tal como fez com a taxa de alcoolémia.
Isto porque, continua a notícia, «os aparelhos usados pela PSP e pela GNR para medir a velocidade dos condutores não são fiáveis».
Cá para mim, que só vocês me ouvem, a DGV foi infiltrada por perigosos anarquistas que pretendem derrubar o Estado, provocando uma gigantesca insurreição civil nas estradas. Acabou a Tolerância Zero! Viva a Tolerância Zero Vírgula Logo Se Vê. Coitados dos PSPs e GNRs...Assim, nem com apoio psicológico aguentam.

Quem fala assim é inimigo do povo

«Se alguém sente saudades ou nostalgia da Cornélia e daqueles tempos deprimentes em que o único leite com chocolate disponível no mercado era o UCAL, ou bem que lhe dou os sentidos pêsames, ou lhe recomendo uma rápida ida ao médico»
Caro Fernando Martins, isto não é coisa que se escreva embora lhe fique bem o tom de jovem iconoclasta. Mas a Cornélia emparceira, com o Zip-Zip, como os dois melhores concursos de sempre da nossa televisão.
P.S. Já agora, o UCAL como leite com chocolate não precisava de concorrência para nada. Ainda hoje, aliás, não a tem que se veja. Dito isto, devolvo-lhe os pêsames e recomendo uma leitura nostálgica da revista «Pão com Manteiga».

Milagre em paralelo

Estou completamente de acordo com o que Vital Moreira escreveu hoje no Público sobre a Câmara de Setúbal e com o que Eduardo Prado Coelho escreveu, mesmo ao lado, sobre Gunter Grass.

A fase dos neutros

«Um Manifesto da Direita em Portugal» tem 22 páginas. Acabei de lê-las e tirar a seguinte conclusão: Faltam-lhe (ao Manifesto) tomates.
Bem redigido, o texto aponta os dedos todos ao cenário político pós-25 de Abril, inquinado por uma ideologia oficial e uma Constituição de bases marxistas que todos perfilharam.
Depois, acusa por um lado «alguns» políticos de Direita de contemporizarem com as políticas de Esquerda (não se esclarece quem e porquê, mas adiante) e a Esquerda de se arvorar em concessionária de alvarás de quem é ou não de Direita e Extrema-Direita. Até aqui, a lógica do discurso tem um encadeamento sustentado.
A Nação, o Estado e as dicotomias que separam a velha da nova Direita são apresentadas de forma a delinear a fronteira entre os territórios de uma e outra. De forma polémica, mas pelo menos com clareza e capacidade de síntese e sem lirismos rococós retóricos. Excelente.
Mas, e há aqui um grande mas, o Manifesto diz a certa altura isto: Que «uma Direita consciente de si própria deve ter, como missão primeira, o recentramento do regime». E que isso deve traduzir-se em «induzir neutralidade ao regime, lutando por uma Constituição ideologicamente neutra».
Aqui, pacientes leitoras e leitores, é que a suina torce o rabo. O PND quer uma união da Nova Direita, não para construir um regime de Direita com valores de Direita, mas para o recentrar neutralizando-o ideologicamente. É a sua «missão primeira». A mim, parece-me uma «missão primeira» não só frouxa como desnecessária e nada mobilizadora, porque vácua dos mesmos valores e conteúdos apresentados no manifesto. Ou, dito de uma forma eufemística, uma missão primeira que não os tem no sítio. É pena, porque assim não mobilizam ninguém. Mais ao centro o regime não poderia estar e ideologicamente neutros já andamos nós todos.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Como Vital Moreira vê Setúbal

Vital Moreira não acompanha o "generalizado criticismo" em torno da abrupta demissão do presidente da câmara de Setúbal, Carlos de Sousa. E procura explicar aqui porquê. Mas ou essa explicação ficou incompleta ou eu terei compreendido mal a conclusão decorrente do seu argumentário.
Vamos por partes.
Diz Vital que os partidos devem manter "um escrutínio sobre o exercício do mandato dos seus eleitos". Muito bem. Resta saber se esse "escrutínio" deve ser feito à revelia dos eleitores, não lhes facultando informações elementares sobre o veredicto a que as luminárias do partido chegaram no seu obscuro critério. Salvo melhor opinião, foi isso mesmo que agora sucedeu em Setúbal: a decisão do PCP, não cabalmente justificada, permite toda a margem de interpretação quanto à conduta do autarca, ainda há dez meses apresentado como modelar pelo próprio partido.
Diz também Vital que "devem ser ressalvados os princípios da transparência e da dignidade dos visados". Achará que esses princípios foram respeitados em Setúbal? Parece que não: de outra forma não diria, como diz, que as "razões" do PCP não foram "transparentes" (o que, presumo, não será propriamente uma revelação para o professor Vital, conhecendo como conhece o aparelho comunista desde 1974).
Em suma, o reputado constitucionalista lamenta o seguinte:
1) Que a "liberdade individual do titular do mandato" não tenha sido respeitada, uma vez que reconhece a existência, neste caso, de "uma imposição" do partido sobre Carlos de Sousa;
2) Que o partido maioritário em Setúbal "não tenha deixado transparecer as razões" que o levaram a afastar o presidente da câmara.
Mas sendo assim, escrevendo o que escreveu, como pode Vital Moreira sustentar afinal que não acompanha o "generalizado criticismo" face ao saneamento do autarca?

P. S. - E uma perguntinha adicional: gostava de saber por que motivo o constitucionalista nunca menciona o nome do presidente da câmara de Setúbal agora afastado pelo PCP. Carlos de Sousa terá lepra?

O cavaleiro branco

O El Confidencial, sempre bem informado, diz que a Sonae tem na France Telecom (com o Banco Santander envolvido, entre outros) o "cavaleiro branco" para voltar a agitar o mercado e aumentar a sua oferta de 9,50 euros para 10,5 euros/acção na luta renhida pela PT. Uma resposta à propalada unificação das redes fixa e móvel?
Já agora, e na definição medieval a que o site espanhol inteligentemente recorre, um "cavaleiro branco" opõe-se a um "cavaleiro negro": "Hace unos meses se barajó la posibilidad de que en caso de que France Telecom estuviera detrás de la oferta de Sonae, Telefónica podría responder con el lanzamiento de una contraopa".

Tão amigos que eles são

Eis a notícia que esperavam todos os cubanos. Há mais um furacão a deixá-los sem abrigo (ainda por cima com o mesmo nome de baptismo do Che, suprema ironia), a falha de uma central eléctrica deixou Havana às escuras e as incógnitas com o processo de transição política são o que se sabe. Mas não faz mal:
A partir de hoje, todos os milhares de cubanos em férias de luxo na China vão poder ver a televisão do seu país em 2.500 hotéis, via satélite. Ao mesmo tempo, Cuba nomeou no país amigo um novo embaixador. Como se diria em futebolês, é «um reforço».

Amaciador

Ninguém me tira da cabeça a ideia de que o Governo só se lembrou de convidar o Presidente da República para receber o primeiro passaporte electrónico português (ou "PEP", como já lhe chamam) porque, de alguma maneira, convém tentar ir "amaciando" a "coisa" com Belém por estes dias. O convite foi feito há algum tempo, dizem-me, mais concretamente na altura em que se soube que um aviãozinho israelita de transporte militar escalou a Base das Lajes e o executivo não terá dado qualquer informação ao Chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas. Para além disto, outras questões foram surgindo, nas quais se inclui o Líbano. Foi Cavaco Silva que introduziu alguma calma na questão, depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa terem posto a carroça à frente dos bois. O Presidente aconselhou cautela, disse que era preciso ter atenção aos "condicionamentos políticos e militares" e chegou a dizer que era "extemporâneo" falar-se já do envio de tropas portuguesas para o Médio Oriente. Pelo meio, Cavaco aprovou a Lei da Paridade, sem notas, mas numa espécie de regime experimental, e a Lei Eleitoral dos Açores, cheia de notas e recomendações. Daí que o passaporte seja hoje entregue a Cavaco e não a Sócrates, que tem tido direito a tudo o que de mais moderno se faz neste País. De caixas electrónicas postais, a cartões únicos que ainda não existem, até procedimentos administrativos muito "simplexes". Desta vez, cede o lugar ao PR e aos dois artistas envolvidos na reconversão do nosso passaporte: Henrique Cayatte e Júlio Pomar. Enfim, é só uma ligeira desconfiança que tenho, mas acho que os spin doctors de São Bento não conhecem bem o terreno em que se movem agora. É que o "amaciador" não funciona sem "champô", passe a linguagem de barbeiro...

Foi publicado na Atlântico e tudo

Figo bem pode ser Figo, mas ler isto é de gritar pela mãezinha depois de um sonho mau.
(Estava aqui outra linha por baixo mas retirei-a porque, de facto, não era nada comigo).

Top Gear na terra das sardinhas...

Ou seja, em Lisboa!

Somos apelidados de "terror das sardinhas",
mas a corrida entre um Clio e uma BTT
até ao Campo das Cebolas desculpa tudo.

O Pirex

Preciso de um passaporte novo, desses digitais e com chip, iguais aos que vão ter Cavaco Silva e Henrique Cayatte. Parece que me custará 60 euros, isto se puder esperar seis dias. Caso contrário, são mais 45€ de taxas. Graças a Deus vivo em Portugal e, só por isso, não acrescento ainda a esta já redonda quantia outros 45€ para o envio (supõe-se que numa caixinha especial e numerada). Pago, pois, apenas mais 10€ para que me chegue à caixa do correio em território nacional (o passaporte deve pesar tanto como uma encomenda da La Redoute). São, ao todo, 115€ por um documento oficial.
Assim, percebe-se bem quem vai pagar o choque tecnológico. Iniciativas destas deviam incluir-se no PIREX. Parecem as refeições cozinhadas em minutos, na lógica do micro-ondas. Mas que, no final, nos saem mais caras do que uma ida ao Gambrinus.

Ninguém mexe, ninguém estraga

Ontem, no noticiário das 22.00 da SIC Notícias, os primeiros dezasseis minutos foram integralmente dedicados às notícias domésticas: Noticia 1 – Novela Mateus, com direito a “directo” e muitas bacoradas - um enjoo. Notícia 2 – Delinquência da claque do Boavista na estação de serviço de Aveiras. E foi tudo.
Eu assisti até ao fim, pois esperava ao menos ver uns "resumos da bola" e o golo do Jardel ao serviço do Beira-Mar, mas nem isso, nada, neribit!
Bem vistas as coisas até é bom sinal: A redacção do canal deve estar a banhos, os políticos estão "no defeso", os fogos e outras tragédias também tiraram uns dias de folga, nada mexe, e assim ninguém estraga nada.
Ah! Pois! Anda por aí alguém a “refundar” a direita, dizem.

Debaixo do pavimento, a direita

Manuel Monteiro desafia a direita a sair do armário e «assumir-se». Proponho, desde já, duas iniciativas para este efeito:
A primeira, à semelhança do que a C.M.L. patrocinou no período João Soarista para os gays, a publicação de um roteiro da Direita. «Onde comer», partilhando à mesa as conversas sobre o tempo em que Rolão Preto era vivo em torno de uma refeição integral; «Onde dormir», sonhando em hotéis de charme com o regresso de Salazar num dia sem nevoeiro e «Onde fazer amigos», agora que a esquerda invadiu os espaços do caviar.
A outra iniciativa seria, evidentemente, uma gigantesca Right Parade, que fosse da Fonte Luminosa à Quinta da Marinha numa Longa Marcha à qual se juntariam, pelo caminho, todos os que têm tido medo de «assumir-se» mas logo o perderiam, à vista da multidão qual caudal das avenidas lisboetas depois de uma chuvada.
Desta forma, assim assumida, a direita revelaria finalmente o que não tem feito nas urnas. A começar pela sua existência.

E aprende lá mais isto

O pardal que o João Fernandes reproduz aqui é macho. E fica mal assim solitário, num blogue com um nome tão sugestivo...

Confissões da 46ª mulher mais sexy (1)

Uma dessas revistas especializadas em temas de televisão abria há dias as páginas a "uma das estrelas de Morangos com Açúcar", que aos 20 anos "assume que está solteira". A menina, chamada Jessica, de facto "despe-se de preconceitos", como assinala a revista, exibindo a inevitável tatuagem suburbana da moça. Jessica confessa ter iniciado "um curso de seis meses" (faltou especificar de quê) em Londres mas 9o dias depois estava de regresso à parvónia por "já não suportar a ausência do sol, da família e dos amigos". A televisão interrompeu-lhe o sonho de ser "médica legista" e agora, com tanto trabalho, nas folgas só lhe resta tempo para "ir ao médico, ao banco e às finanças". Revela ter posto silicone nos seios, mesmo sem o apoio dos pais. E porquê? "Para gostar mais do meu corpo, embora nunca me tivesse achado feia." Aliás, acrescenta, "como encontrei um médico que me fazia sentir confortável, porque havia de esperar?"
É assim mesmo: o silicone não pode esperar.

Confissões da 46ª mulher mais sexy (2)

Depois de se ter "despido para uma revista masculina", Jessica sentiu-se "sensual pela primeira vez na vida", até por ter sido eleita a 46ª mulher mais sexy "a nível internacional". Deixou de ser católica por "ter perdido muitos amigos em desastres de carros", entre eles o tão chorado Francisco Adam. E só estranha ver a sua vida íntima "exposta perante o Mundo inteiro". Chegando a desabafar: "Não sei onde é que vários jornalistas foram buscar certas situações..."
Jessica, Jessica... Tanto papo prafrentex, tanta tatuagem, tanto silicone, e afinal acabas como o velho tio Alberto João lá da Madeira, bota-d'elástico até dizer basta: a culpa é sempre dos jornalistas. Põe lá um pouco mais de açúcar nesses morangos a ver se o azedume passa.

Não há pais para eles

Esta é uma pequena notícia do DN que diz muito sobre a nossa forma de ser no seu pior. Um parque infantil alerta para a falta de segurança das instalações em recuperação, mas os pais olimpicamente ignoram-no e acham que não há perigo. Eles é que sabem.
Haja um acidente, e lá estão na TVI aos saltinhos histéricos a exigir responsabilidades a quem de direito. A falta de cultura cívica é sempre triste, quando envolve crianças então, nem se fala. Não só pelo risco, como pela cultura que promove «em casa» de ignorar os avisos, as recomendações e as leis.
A Câmara devia ter fechado o parque infantil de Belém, mas optou pelo alerta. Por cá, como se vê mais uma vez, os alertas são como os semáforos amarelos. Só servem para nos fazer acelerar, em direcção à curva da inconsciência.

3 notinhas 3

Depois da leitura do Público de hoje, aqui ficam três pequenos apontamentos:

1. O meu agrado por, na sua coluna do «Diz-se», haver hoje lugar para três bloggers: O nosso Francisco, João Gonçalves e Paulo Gorjão. Mais um sinal do aumento de relevância da blogosfera no campo da opinião.

2. Os meus parabéns pelos seus 45 anos ao Jorge Ferreira, apresentado pelo jornal como «militante da Nova Democracia». Mais do que isso, é entre outras coisas autor do Tomar Partido. Um abraço.

3. A minha estupefacção pela leitura nas «Carta ao Director» do que escreveu Duarte Moral, chamando a José Manuel Fernandes «maoísta arrependido», «mestre da desfaçatez» arrogante, intelectualmente desonesto e outras coisas mais. A carta mais parece escrita por um daqueles leitores reformados que por vezes se passam dos carretos, do que pelo assessor de imprensa de um Ministro. Há um tom institucional para estas coisas. E não é o da indignação insultuosa com certeza.

Imperdível

É a série de artigos intitulados "Póquer de Ases", de Manuel Vicent, na última página das edições dominicais do El País. Começou há um mês por falar em Albert Camus, prosseguiu com evocações de Arthur Miller e Samuel Beckett, ontem mencionou Julio Cortázar, esse singular escritor argentino que "converteu a literatura fantástica, o jazz, a pintura vanguardista, o boxe e o cinema negro na sua única pátria e Paris numa metáfora, numa cartografia íntima". Infelizmente, não temos ninguém a escrever assim na imprensa portuguesa - muito menos no espaço nobre de um jornal. Não por falta de talentos mas porque entre nós não está na moda "gastar espaço" com textos deste género, com mais substância que espuma.

domingo, agosto 27, 2006

Só uma pergunta

As probabilidades de eu entender a embrulhada que se passa com o Gil Vicente são as mesmas de ganhar o Euromilhões. Só gostava que me assegurassem, dada a minha ignorância destes assuntos, se a conta que vai ser enviada à Liga e «às entidades competentes» por causa do jogo cancelado com o Benfica vai ser paga com dinheiros do futebol e privados. Se a pergunta é muito, muito estúpida, paciência. Vivo melhor com isso do que se não o for.

Descompressão II

Pausa para desanuviar

A malta do Top Gear andava aborrecida.
Até que lhes caiu um convite no colo...

Domingo nostálgico

Sangria, havia sempre muita sangria quando começava finalmente o primeiro slow da festa de garagem. Depois, a angústia da escolha no encontro dos pares. Entre aquela que se desejava e aquela que finalmente nos calhava.
Nas colunas, inevitável mais tarde ou mais cedo, Lionel Ritchie.
Os pés tentavam não se limitar a passinhos curtos circulantes. Para onde iam as mãos, isso dependia.
Nas colunas, inevitável mais tarde ou mais cedo, «Say you, say me...» ou «Once, twice, three times a lady...».
E em cima, testemunhando tudo, multiplicando por mil as mãos tacteando a penugem da nuca, a bola de espelhos.

Aviso aos nostálgicos masoquistas: «Lionel Ritchie Truly - The Love Songs», está editado em CD pela Motown.

Impressões musicais (3)

Soube esta boa notícia pela novíssima revista Blitz: foi editado para o mercado nacional o DVD Phantom of the Paradise uma original comédia musical (de terror?) realizada por Brian de Palma em 1974 . Fantasma do Paraíso, com William Finley, Jessica Harper e Paul Williams como intérpretes principais, possui uma esplêndida banda sonora escrita e composta pelo mesmo Paul Williams, distinto compositor pop norte-americano, pouco conhecido na Europa. O disco desta banda sonora é um dos vinis com mais patine que possuo na minha estante – está quase inaudível.
Injustamente ignorado à época em Portugal (estava toda a gente muito ocupada com o PREC, com o Ingmar Bergman ou com o novel erotismo à solta nos cinemas), o filme é uma bem-humorada miscelânea dos clássicos de terror como Fantasma da Ópera, Fausto, Frankenstein ou Drácula, e ao mesmo tempo uma paródia ao emergente meio do "show business rock n’ roll" e aos seus ídolos com pés de barro. A ver e ouvir, com a estereofonia bem alta.

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É o colectivo, é...

O Duarte retomou o tema de Setúbal, avançando com um interessante ponto de vista. O Carlos de Sousa, apesar de renovador, sabia muito bem em que partido estava. Por isso, agora não tem que se queixar, não havendo sequer lugar para críticas ao PCP. O Duarte teria razão se o PCP fosse como ele o pinta. Ou seja, um partido para quem o que conta é a ideologia e a decisão do colectivo. Mas não é. Querem um exemplo? Se o nome de um candidato a uma câmara lhe é assim tão indiferente (uma vez que o que conta é a decisão do colectivo), porque é que o PCP foi buscar o Carlos de Sousa a Palmela? Porque sabia que aquela pessoa, em particular, lhe garantia mais votos que qualquer outro militante...
Conclusão: Já nem o PCP é o que era...

Little Italy

O estado a que chegou o futebol português diz tudo do que somos como povo. Há muito que penso que o nosso Estado e as nossas instituições estão cada vez mais ao nível de Itália. De toda a Europa comunitária diria mesmo que somos o País que, em vários aspectos, mais se tem assemelhado, e pelos piores motivos, à Itália corrupta, politicamente ineficaz e que tão má imagem dá de si mesma. Mas em ponto pequeno. Copiamos só o pior, obviamente. Não fabricamos Ferraris, só que também ainda não temos a máfia. Aqui é tudo em ponto pequeno, temos o político malandro, o dirigente desportivo que mexe cordelinhos e o funcionário público que ostenta mais do que o ordenado que ganha.
A polémica em torno do Belenenses, Gil Vicente e Leixões ficarem na primeira ou na segunda divisão do nosso futebol é mais uma demonstração disto mesmo. Começa o campeonato e, tal como sucede em Itália (onde a Juventus também recorreu aos tribunais comuns, colocando tudo em suspenso), temos tudo baralhado. Os clubes portugueses e a selecção nacional, tal como em Itália, correm o risco de ficar interditos de participar em jogos oficiais. Porque houve um clube, cá o Gil, em Itália a Juve, que achou que a justiça "futeboleira" não era suficiente e recorreu aos tribunais da gente normal. E lá vem a denúncia do costume, que geralmente não vai para além disso: Houve "pressões", fala-se num ou noutro nome, mas fica tudo na mesma...
Já era tempo também do futebol (e a UEFA) não ser um mundo à parte. Ter leis à parte, isenções fiscais que nós não temos. E de descer à Terra.

P. S. - Já que me deu para isto: A vitória de ontem do Sporting fez-me um pouco mais feliz.

Singularidades de uma rapariga morena


Lido o artigo de Daniel Ribeiro na Única sobre Ségólene Royal, apresentada como «mãe de quatro filhos» e possível candidata à presidência francesa, confesso que enquanto o tom do mesmo me causa alguma perplexidade, a entrevista ainda causa mais.
No artigo, ficamos a saber do deslumbramento de Daniel com esta «mulher esbelta», com «físico de adolescente e um sorriso desarmante». E também que, com François Hollande, «mantém uma relação equilibrada» e «discute frequentemente na cama as grandes estratégias político-partidárias» (Valha-me Deus, nem vou fazer piadas sobre esta última frase, só me espanta que ainda não seja possível escrever sobre uma mulher política sem comentar-lhe o corpinho e falar de cama).
Na entrevista, para além de ser contra a despenalização das drogas leves, a legalização da prostituição e o casamento homossexual, Ségolène defende esta coisa linda: A inserção dos jovens delinquentes na instituição militar. Ou seja, em lugar da detenção para os criminosos, uma recruta e uma arma.
Que são necessárias alternativas de reinserção para os jovens em lugar da prisão, estou de acordo. Que se acredite que a tropa fará deles homens, canalizando-lhes a tendência para a transgressão na direcção do mortícinio legal em combate, ensinando-os a matar em ambientes legitimados, é outra coisa muito diferente.
Por tudo o que li, esta senhora é tão socialista como Manuel Monteiro. Mas talvez tenha lido mal, ofuscado pelo seu sorriso deslumbrante.

Gaiola aberta

Há semanas instalei uma gaiola na varanda, deixando-a aberta. Lá dentro meti um recipiente com sementes de milho e alpista. Um bando de pardais não tardou a rondá-la, sem arriscar entrar. Ontem à tarde, porém, deparei com uma fêmea (talvez tendo filhotes para alimentar) banqueteando-se enfim com o prato de sementes, o que motivou um monumental coro de inveja da restante pardalada. À noite, renovei as provisões. E esta manhã lá estava de novo a fêmea, agora já devidamente acompanhada, tratando de encher o papo. Por momentos, senti a tentação de fechar a porta da gaiola. Mas não o fiz: prefiro que estes pardais me visitem diariamente, como se fossem meus, enquanto voam sempre que lhes der na gana.
E entretanto, ao vê-los entrar assim voluntariamente numa gaiola que poderia ser prisão, fico a pensar: afinal, numa situação limite, o que é mais importante - dispor de pão com grades ou gozar a liberdade com fome? Vou continuar a espreitar os pardais, a ver se chego a alguma conclusão.

Coitadinho do renovador

Não me faz pena nenhuma ver o Carlos Sousa ir embora da Câmara de Setúbal. Viveu pelo partido, morreu pelo partido, e não percebo como é que ainda há comunistas "renovadores" dentro do PCP. Como é que alguém pode ser considerado como tal e assistir impávido e sereno a todas as expulsões, purgas, perseguições e difamações que os comunistas sempre fizeram aos seus próprios camaradas que se afastavam da linha oficial? Agora, foi a vez dele. Não foi o primeiro e não será o último. Também me parece absurdo, como o meu partido, o PSD, quis inicialmente (e o meu amigo Pedro Correia aqui defendeu), antecipar eleições. Temos que perder esta mania terceiro-mundista de achar que se vota em "pessoas" (salvo, evidentemente, para a presidência da república) e não em listas partidárias, tanto mais que agora há a possibilidade de quem quiser concorrer em listas de independentes. O PCP tem todo o direito de indicar o sucessor de Sousa desde que o faça dentro das regras. Se a Justiça provar que houve tantos envolvidos naquela tramóia que já não há quem possa tomar conta do cargo, aí então que se façam eleições.
O que mais me irrita no meio de tudo isto é que até sexta-feira (não li os jornais de fim-de-semana, salvo o DN de ontem), não tinha visto ninguém explicar-me quanto é que custou aos contribuintes a antecipação das reformas dos funcionários da Câmara de Setúbal. Quanto é que o "renovador" gastou do dinheiro dos impostos dos portugueses para beneficiar um pequeno grupo, fazendo a chamada "cortesia com chapéu alheio"?

sábado, agosto 26, 2006

Sexo na Cidade, sei lá

Todo o meu ser gemeu de antecipação ao saber que Margarida Rebelo Pinto será responsável por uma coluna , ao estilo do "Sexo na Cidade", no semanário "SOL". Para controlar as minhas expectativas imagino títulos para a coluna. "Preliminares na Aldeia", ficava bem...

Os limites da ciência

Há três dias, Plutão era um dos nove grandes planetas do sistema solar. Anteontem deixou de o ser, acabando agora rotulado de "planeta anão", o que constitui uma despromoção mais que evidente. Como escrevia aqui o Francisco, "hoje em dia nada dura para sempre, nem um planeta". Mas este facto é também uma clara demonstração dos limites da ciência contemporânea na interpretação e catalogação da realidade - incluindo a própria realidade "física", que muitos pensavam ser facilmente traduzível por fórmulas, equações e etiquetas. As velhas "certezas" sobre Plutão duraram 76 anos. Quanto tempo durarão as novas?

Postal de fim de férias

Uma incómoda sensação de melancolia acompanha-me no final das férias, que há muitos anos não gozava tão grandes. Estes últimos dias têm sido passados preguiçosamente entre os livros, jornais e o computador. Entre a casa, a praia da Azarujinha (na foto) e a esplanada do café.
O meu “ano lectivo” começa na segunda-feira, uma vez mais cheio de promessas, expectativas... e com muita vontade!

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Cherchez la chienne

Passeio a cadela à noite em Telheiras. Cruzo-me com uma mulher na casa dos trinta que traz um cão também vistoso pela trela. Trocam-se umas amenidades, já habituais nestas circunstâncias entre donos de animais, enquanto os bichos se farejam.
- É cadela?
- É, não tem mal. Ladra grosso aos cães, mas até gosta de socializar com eles.
Diz-me ela:
- As mulheres geralmente também são assim em relação aos homens.
Aqui para nós, até estou de acordo. Mas imagino só a vaia das feministas de serviço se fosse eu a dizer uma coisa destas...

sexta-feira, agosto 25, 2006

Indy

A confirmar-se a "cacha" da venda do semanário O Independente, que o João aqui deu em primeira mão, é uma óptima notícia para a minha amiga Inês Serra Lopes. E para a nossa comunicação social em geral, que assim não vê definhar mais um título. Mas será que o negócio é feito em euros ou em dólares?..

Assim vai a Pátria

1. Leio no Público que as "grávidas de Elvas escolhem ter bebés em Badajoz" e que "em três meses nasceram em Espanha 53 bebés portugueses".
2.
No mesmo jornal, o Vasco Pulido Valente continua em grande forma: "Na democracia portuguesa não houve até hoje um governo tão reservado e tão autoritário. A reserva sustenta a autoridade. Quem manda não discute. Principalmente em público. E, fora as sessões da Assembleia da República (uma pura comédia), Sócrates, na verdade, não discute nada. Proclama, anuncia, revela. Repete a propaganda oficial. Mas não desce a discutir com a oposição a sério ou sequer a justificar o que anda, ou não anda, a fazer, ao grosso do país. Pouco a pouco, acabou por se tornar numa figura remota e cerimonial. O corpo a corpo e a polémica perpétua, que são a essência da política, desapareceram. O regime a que Sócrates preside é hoje praticamente apolítico. E um regime apolítico tende a rejeitar tudo o que perturba a paz da rotina. Um incêndio no Gerês não cabe, por definição, na ordem estabelecida".
3. No Jornal de Notícias, lê-se que o "salário mínimo nacional dá pior nível de vida da UE". Segundo o jornal, "na Europa a 15, o poder de compra dos portugueses chega a ser 260 euros inferior ao dos gregos". E ainda: "Há 285 mil pessoas a ganhar 385,90 euros por mês, antes de fazerem os descontos".
4. No Correio da Manhã, fiquei a saber isto. Marques Mendes continua a tomar decisões muito acertadas...
5. O novo passaporte electrónico (que o Governo oferecerá na segunda-feira ao Presidente da República) irá custar a módica quantia de 60 euros. É o que acabo de saber, será verdade? O Estado moderniza-se à nossa custa?

Ouça um bom conselho...

Mantenha a sua mente aberta. Mas não tão aberta que os miolos caiam.

Sexta

Karolina Kurkova.
Vai estar bom tempo este fim de semana?

Estado da Nação

Pronto, se é ele quem querem, aqui está. O maior português de sempre, votado pelos nossos comentaristas. Posso agora dizer que o meu sentido de voto foi para El Rei Dom Diniz. Pelas cantigas e a Ordem de Cristo, para além do resto do qual sobra pouco, ali para os lados de Leiria.
Este resultado só espelha bem como a equipa do Corta Fitas está longe da organização do Comité Central do PCP e respeita a pluralidade da expressão democrática.
Bah! Para a próxima não abro as urnas e bem podem queixar-se à C.N.E.

Em excelente forma

Esta senhora, chamada Caroline Flint, está em foco na Grã-Bretanha. E por excelentes motivos: o primeiro-ministro Tony Blair acaba de nomeá-la secretária de Estado “para a boa forma”, um novo posto no Governo britânico destinado – segundo revela a conspícua BBC - a “estimular a actividade física” dos britânicos. A avaliar pelas primeiras impressões, a senhora parece ter sido uma boa escolha. E desde já aproveito para sugerir ao primeiro-ministro José Sócrates, que tão inspirado tem sido por Blair, a criação da mesma pasta no Executivo de Lisboa. Se há coisa de que os portugueses precisam é de alguém que zele pela sua boa forma ao mais alto nível. Aceitam-se sugestões dos leitores: quem teria mais vocação para desempenhar tal cargo?

O povo e o poder

Durante a Monarquia, as reformas que o PRP tão eloquentemente recomendava tê-lo-iam fortalecido nas grandes cidades e em meia dúzia de capitais de distrito. Com sorte, teriam talvez levado trinta e tal deputados republicanos ao Parlamento e permitido a conquista de outras tantas câmaras. Assentavam, porém, num postulado falso: o de que o país queria a República. Depois do 5 de Outubro, depressa se tomou claro que não queria. E, assim, esquecendo as suas mais solenes promessas, o PRP nunca decretou o sufrágio universal ou lutou pela descentralização eleitoral e administrativa. A longo prazo, o democratismo republicano não podia deixar de se revelar por aquilo que era: a expressão ideológica da vontade revolucionária da pequena burguesia urbana.

Vasco Pulido Valente - O Poder e o Povo, 1976 - Edição Gradiva 2004

Irão premiar a fraude?

Vítor Ramalho, dirigente distrital do PS/Setúbal, veio apontar o dedo crítico ao PCP a propósito da saída de Carlos de Sousa. "A lei possibilita a renúncia dos autarcas, mas como acto voluntário. O PCP utiliza métodos que a lei não consente, ao impor publicamente essa renúncia", declarou Ramalho ao Diário de Notícias, acrescentando: "Esta situação implica uma fraude à lei."
Certíssimo. Agora só falta o PS ser coerente com estas palavras, forçando a realização de eleições intercalares em Setúbal. A menos que pretenda premiar a "fraude à lei" que o seu líder distrital tão eloquentemente denunciou.

"Pioneira" promovida

Consulto o currículo da presuntiva sucessora de Carlos de Sousa à frente da câmara de Setúbal. O menos que posso dizer é que se trata de um currículo medíocre para quem se prepara para liderar uma importante capital de distrito. Maria das Dores Meira chega aos 50 anos (o "rejuvenescimento", para o PCP, é sempre muito relativo...) exibindo uma folha de serviço da qual, em termos políticos, se destaca apenas a actividade juvenil nos Pioneiros (a organização comunista de juventude, decalcada do modelo soviético) e a posterior militância no PCP. O que fez até hoje por Setúbal esta licenciada em Direito "especializada em propriedade industrial"? Limitou-se a integrar o executivo municipal liderado por Carlos de Sousa desde 2001. O mesmo autarca a quem ela agora ajudou a tirar o tapete, em nome dos "superiores interesses" do partido que insiste em substituir-se à vontade dos eleitores. O povo é quem mais ordena? Perguntem aos habitantes de Setúbal se isso é verdade.

Um Expresso curto

Menos 30% de «área de texto» é muito, mas muito, menos texto. De acordo com a notícia de hoje do DN, esta alteração no novo formato do Expresso visa «facilitar a leitura». Tenho muitas dúvidas de que os leitores do jornal queiram a sua leitura mais facilitada. É uma opção de combate ao inimigo com as suas próprias armas, já que o Sol se prevê também de fácil digestão. Mas uma aposta arriscada.
Para mais, com um O Independente que parece já ter sido finalmente comprado e que - segundo me disseram - terá o Pedro Rolo Duarte como Director, com grandes mudanças no horizonte.
Repito. Menos 30% de texto é muito menos texto. Dia 9 de Setembro, vamos ver como isso se reflecte naquilo que realmente interessa: as notícias e as reportagens. O que os leitores do Expresso querem, ou pelo menos o que eu queria, era que depois de o tirar do saco de plástico descobrisse lá dentro alguma coisa para ler. Por 3€, não quero mais bonecos mas mais "cachas", mais artigos de fundo e análise. A ver vamos. Pode ser que seja possível ter o Sol na eira e a chuva no nabal.

Parabéns ao Inimigo

A edição de hoje de oInimigoPúblico está do melhor. Não só as «notícias» provocam gargalhadas constantes, brincando com Cavaco, os boys, Luís Miguel Cintra e Margarida Rebelo Pinto (que admitiu também o seu passado nas SS :) como o tratamento gráfico das imagens subiu - e muito - de nível.
As montagens de um Vítor Constâncio, qual Paulo Cardoso revendo as previsões económicas com um mapa astral, ou de um Sócrates siamês resultam em cheio. A capa, essa então, está fora de série.
Parabéns a todos e ao Luís Pedro como chefe da malta, por um projecto que se mantém todo este tempo depois com uma criatividade acima da média. Muitos dirão que num país como o nosso é fácil fazer humor com tudo e com todos. Mas não é verdade. Pelo menos com esta qualidade, todas as semanas.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Poema do jornal

O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.

Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

Carlos Drummond de Andrade

Viva o bidé

Ao contrário do que dizem ser a tendência - e correndo o risco de parecer uma extraterreste aos olhos de algumas personalidades da nossa sociedade (veja-se a revista Sábado de hoje) - eu gosto do bidé. Sim, o bidé. Aquele acessório de higiene inventado em França já lá vão 300 anos. E que se diz neste país à beira-mar plantado estar em vias de extinção. Pois na minha casa não está e até tem algum uso. A minha filhota, por exemplo, que não passa dos 70 centímetros de altura (ainda só tem um ano, claro), adora abrir e fechar a torneira do bidé (sempre que está fora do meu campo de visão), para passar a sua mãozinha molhada pela boca. O bidé está para ela como o lavatório para os pais. Mas o bidé, se pensarem bem, tem muitas outras utilidades. Então não é ele, para quem gosta de andar descalço em casa, um bom acessório para se lavar os pés... uma, duas, três vezes ao dia?
Estou seriamente a pensar criar um movimento pró-bidé.

Plutão

Hoje em dia nada dura para sempre, nem um planeta. Pergunto: O que fazemos aos atlas e às enciclopédias que temos em casa? Uma coisa é haver países novos de tempos a tempos, outros que se desagregam, mas outra, completamente diferente, é um planeta deixar de o ser. E logo um planeta tão simpático como Plutão, sobre o qual se sabia ainda tão pouco. Descoberto por acaso em 1930, Plutão era o planeta mais longínquo do sistema solar. Era, pelos vistos. E ainda dizem que no Verão não há notícias...

Interlúdio humorístico

José Ribeiro e Castro também pretende ser ouvido no processo de escolha do novo procurador-geral da República.

Consensos

"O único consenso que o nosso sistema político constitucional prevê para a nomeação do procurador-geral da República é o que resulta do facto de o mesmo ser nomeado pelo Presidente da República sob proposta do Governo".
Francisco Teixeira da Mota, in Público
Será?

E se fosse em Lisboa?

Imaginemos o cenário: na Câmara Municipal de Lisboa havia uma espécie de golpe palaciano, perpetrado pelo PSD, que forçava a demissão do presidente Carmona Rodrigues dez meses depois de ter sido eleito na lista social-democrata e a ascensão do número três da vereação para o seu lugar, sem devolver a palavra aos eleitores. Como reagiria a isto um dos principais comentadores da área comunista, Ruben de Carvalho, que é simultaneamente vereador do PCP no município? Claro que não tardaria a exigir eleições intercalares - e bem. As mesmas que os comunistas pretendem a todo o custo evitar em Setúbal.

Estalinismo à moda de Setúbal

Carlos de Sousa, que já foi "autarca modelo" do PCP, tornou-se o primeiro presidente de uma grande câmara em Portugal forçado a renunciar por vontade do partido. Sem que os comunistas tivessem chegado a dar-se ao incómodo de comunicar aos habitantes de Setúbal por que motivo decidiram apear o homem que em 2001 lhes permitiu recuperar a câmara ao PS e há menos de um ano foi reconduzido nas urnas. Invocar a necessidade de "renovar energias, rejuvenescer e reforçar a equipa" autárquica, escassos dez meses depois do último acto eleitoral no mais importante município de que dispõem em Portugal, é não dizer rigorosamente nada. Estamos perante a habitual "transparência" à moda do PCP. Mas atenção: Setúbal não é a Rua Soeiro Pereira Gomes, onde o secretismo se tornou regra dominante e todo o indício de heterodoxia acaba sancionado. O que os eleitores escolheram por sufrágio directo e universal não pode ser alterado por uma manobra de secretaria destinada a entronizar uma ilustre anónima sem currículo: esta é uma regra sagrada do sistema democrático, que nenhum partido deve subverter. A vontade dos eleitores de Setúbal não é transferível, por reflexo estalinista, para uns apparatchiks que se imaginam tutores das consciências dos cidadãos. Se a moda pegasse, aliás, nem valeria a pena votar: limitávamo-nos a delegar a escolha nos directórios partidários.
Falta saber se os socialistas setubalenses estão à altura dos acontecimentos, assumindo com frontalidade a necessidade de eleições intercalares no concelho em nome dos melhores princípios democráticos, ou se condicionarão a aplicação desta regra a medíocres cálculos políticos de circunstância, idênticos ao que levaram o PS-Oeiras a um lamentável concubinato com Isaltino Morais, violando todas as promessas feitas aos eleitores.